Projeto DEEP-OCEAN
Talude São Paulo

A 2ª Expedição do projeto DEEP-OCEAN teve como destino o Talude Continental Brasileiro, ao largo da Ilha de São Sebastião, no Estado de São Paulo (23º30’S -26º00’S, 43º55’W – 46º50’W).
O Talude Continental é província fisiológica da margem continental que apresenta os mais elevados valores de declividade do fundo do mar. O Talude Superior inicia-se após a quebra da Plataforma Continental em cerca de 150 m, e se estende até a isóbata de 600 m, e possui alto grau de inclinação variando entre 0,55º e 1,5º. O Talude Inferior inicia-se em 600 m e se estende até 1.975 m, com inclinação que varia entre 1,3º e 2,2º, porém tem valores acentuados de até 3,55º a partir de 1.300 m.
Período
· Data de embarque da equipe de pesquisa: 20/09/2019
· Data de saída: 21/09/2019
· Data de regresso a Santos: 01/10/2019
· Dias de navegação: 10
· Milhas navegadas: 1.175
Equipe
Marcelo R. S. Melo (coordenador, professor doutor, IO-USP); Amanda Gomes (doutoranda, IO-USP); Elias Rosenberg Krausz (discente de graduação, IO-USP); Flávia Tiemi Masumoto (discente de graduação, IO-USP); Gabriel Stefanelli Silva (mestrando, IO-USP); Gabriela Amancio Galeazzo (discente de graduação, IO-USP); Gabriela Verruck De Moraes (Bióloga, IO-USP); Hannah Hadassa Fernandes Galvão Leite (discente de graduação, IO-USP); Heloísa De Cia Caixeta (discente de graduação, UNIFESP); Isabela Vilarinho Acorsi (discente de graduação, UNIFESP); Karla Diamantina De Araújo Soares (doutora, IB- USP); Luis Carlos Da Silva (técnico, IO-USP); Mayza Pompeu (mestre, técnica, IO-USP); Natan Carvalho Pedro (mestrando, MZUSP); Nathalie Amorim Fernandes (mestranda, IO-USP); Luiz Vianna Nonnato (engenheiro, técnico, IO-USP); Pollyana Christine Gomes Roque (doutoranda, UFRPE); Rayane Dos Santos De França (discente de graduação, IO-USP); Rodrigo Antunes Caires (doutor, IO-USP); Rodrigo César Marques (Professor Adjunto, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) .
Objetivos
Coleta de amostras de peixes e outros organismos demersais em profundidades variando entre 300–1.500 m, através da rede de arrasto de fundo; perfilagem de temperatura, salinidade, turbidez, fluorescência, oxigênio dissolvido com CTD Seabird 9plus.
Resultados
Ao todo, foram realizados 16 arrastos com a rede supramencionada, 6 lançamentos de Rosette com CTD e uma coleta de bentos, com amostrador box corer.
Os exemplares foram fixados a bordo em formol 10%. Amostras de tecido para análise molecular foram retiradas de todas espécies e fixadas em Etanol 100%. Quando possível, foram tiradas amostras de tecido de até 10 exemplares por espécie. Os exemplares com órgãos bioluminescentes foram tiveram os órgãos dissecados e congelados em nitrogênio líquido a -195º C para análises dos compostos bioluminescentes.
As coletas resultaram na captura de 1.681 exemplares de peixes, pertencentes à 89 espécies, sendo 75 pertencentes a classe Actinopterygii (26 ordens e 46 famílias) e 12 pertencentes a classe Chondrichthyes (3 ordens e 5 famílias). Destes, 68 foram identificados preliminarmente em nível de espécie, 13 em nível de gênero e 6 em nível de família.


Dentre os Actinopterygii, as famílias mais diversificadas foram Ophidiidae (8 espécies), seguida de Macrouridae (6 espécies), Stomiidae (5 espécies), Alepocephalidae (4 espécies), Synaphobranchidae, Moridae e Gonostomatidae (3 espécies). Entre os Chondrichthyes, as famílias mais diversificadas foram Rajidae (3 espécies) e Etmopteridae (2 espécies). No talude continental, a maior diversidade de espécies de peixes se concentrou no talude superior, entre 400 a 794 m, atingindo os maiores valores na isóbata de 400 m, com 20 espécies. Essa região também concentrou o maior número de indivíduos coletados, com máximo de 364 indivíduos em 500 m. A partir de 900 m de profundidade, houve grande redução tanto no número de espécies, quanto na abundância das coletas. A menor diversidade foi registrada entre as isóbatas de 1.342 e 1.408 m, com 4 e 5 espécies, respectivamente.

Foram coletados 81 morfotipos de invertebrados que classificados à bordo em grandes grupos e identificadas tentativamente em diferentes níveis taxonômicos: dois morfotipos de Porifera; um, de Ctenophora; 20, de Cnidaria; 14, de Mollusca; um, de Sipuncula; 27, de Crustacea; três, de Polychaeta (Annelida); 13, de Echinodermata; e um, de Tunicata.

Dejetos antropogêncios

Apesar da distância da costa e dos centros urbanos, isolamento e dificuldade de acesso, dejetos antropogênicos já foram reportados até mesmo nas regiões mais profundas e isoladas dos oceanos (Chiba et al. 2018). Durante as coletas da 2ª Expedição DEEP-OCEAN, o lixo foi encontrado em todas as estações. Todo o lixo que foi capturado nas redes foi lavado, seco e classificado em seis classes: plástico; metal; vidro; tecido; petrecho de pesca; e outros. O plástico, principalmente sacolas, foi o único item presente em todos os arrastos e representou 52,6% do lixo capturado; seguido por metal, proveniente das plataformas de petróleo e ductos subarinos e latas de alumínio bebidas e gêneros alimentícios, presente em 76% das capturas. Vidro, pedaços de tecido e restos de petrechos de pesca estiveram presentes em pelo menos 46% das capturas.